A Ornamentação dos Ossos e o Cortejo Final
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A Ornamentação dos Ossos e o Cortejo Final

A Ornamentação dos Ossos e o Cortejo Final

A ornamentação dos ossos ocorre em um ambiente restrito, construído com paredes feitas com esteiras de palha, dentro da casa dos homens. Uma esteira é colocada para que as mulheres e as crianças não possam ver os ossos serem adornados. Todo o processo é acompanhado de cantos, choros e escarificação (cortes feitos com cacos de vidro pelo corpo) por parte das mulheres ligadas ao morto. Vale dizer que este é o momento mais solene e de maior comoção. Segundo expectadores do evento, a cena assemelha-se à uma catarse coletiva.

Cabe ao aroe maiwu o tingimento dos ossos maiores e do crânio, sendo este último tratado especialmente e adornado com penas em um padrão que remete ao utilizado pelo clã do morto. Para aquela sociedade, a ornamentação faz parte do processo de transformação dos ossos em alma, fazendo com que o envolvimento empreendido ali seja ainda mais intenso.

Uma vez ornamentados, os ossos são colocados em uma bandeja de palha, transmitida aos parentes do finado, passando a ser carregada como os cuidados semelhantes aos destinados a um bebê. Dali, passam para um grande cesto (aroe j'aro) em uma tentativa de se preservar a ordem óssea do corpo enquanto vivo.

Um cantador experiente, o aroe et-awari are, xamã das almas, evoca a alma do finado para que esta ocupe agora sua nova morada. Todas as outras almas são também evocadas para que ajudem o morto a entrar na aldeia dos mortos.

O cesto contendo os ossos é costurado e para amarrá-lo são usadas tranças de cabelos dos parentes do morto. A mãe ritual do morto carrega o cesto em um percurso ritualístico por toda a aldeia, concluindo o seu trajeto em sua casa, onde os ossos descansarão por uns dias.

Em seguida, os restos mortais são transferidos para a urna funerária, que é levada pelo xamã e outros homens para águas que banhem a aldeia. Ali, o aroe maiwu se encarregará do sepultamento definitivo, perfurando o cesto para que a água possa entrar, fazendo com que o cesto afunde.

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