O primeiro enterro
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O primeiro enterro

O Primeiro Enterro

A chegada da morte é marcada pela perda do sopro vital. A partir do momento da constatação da ausência deste sopro, por parte daqueles membros do clã atribuídos dos cuidados com o indivíduo em despedida, o rosto do morto é coberto por uma bandeja de palha. Isso acontece porque, uma vez transformado em espírito (aroe), este não deve ser visto por mulheres ou por crianças.

Daí, no pátio central da aldeia (bororo) o corpo enrolado em uma esteira é enterrado em cova rasa, preparada pelas mulheres. Os homens, mas somente os da metade oposta àquela da qual pertencia o morto, serão responsáveis pela sua rega diária.

A partir deste momento, inicia-se o processo de transformação (desfiguração e decomposição) ao qual deve aquela matéria ser submetida. Assim como a decomposição do corpo, incentivada diariamente por meio de regas, todos os pertences do morto devem ser queimados ou destruídos (para o caso daqueles objetos não destrutíveis pela ação do fogo como, por exemplo, peças de cerâmica). Tudo o que aquele indivíduo representou materialmente deve desaparecer com a sua morte. A nenhum objeto deverá ser atribuído valor, e nada concreto poderá ser herdado daquela existência.

O morto será enterrado com o rosto virado para o poente, em contraposição ao posicionamento de uma criança ao nascer, no momento de receber o seu nome, sendo nesse momento a face virada para o local onde o sol nasce.

O estado do corpo e os cheiros exalados são examinados de tempos em tempos. O odor de podre (jerimaga) indica que o Bope (entidade sobrenatural responsável por todos os processos de transformação) ainda não está saciado e precisa alimentar-se um tanto mais.

Ressalta-se que a intenção nesta fase é a purificação daquele aroe para que ele possa ter acesso ao mundo dos mortos. Para tanto, não se deve, inclusive, pronunciar o nome do morto após a sua morte.

Os ritos a serem celebrados a partir daí dependem do clã do finado e dos recursos materiais disponíveis. 

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